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Ana Márcia Gomes, uma maratonista nota 100

Em 16 anos de corrida, ela já completou uma centena de provas de 42 km e foi a primeira mulher sul-americana a terminar dez vezes a Comrades, maior ultramaratona do mundo

Elcio PadovezPor
Elcio Padovez

Ana Márcia Gomes, uma maratonista nota 100

Um filme passou na cabeça de Ana Márcia Gomes quando ela viu a linha de chegada da Maratona de Birmingham, realizada em 12 de fevereiro, nos EUA. Mesmo sendo uma maratonista muito experiente, era impossível não se emocionar com aquele momento histórico. Afinal, aos 48 anos, a oficial de justiça de Campo Grande (MS) estava prestes a alcançar uma marca incrível: completar sua centésima prova de 42,195 km.

“A primeira coisa que me lembrei foi de quando decidi participar da primeira corrida da distância, em 2001. Eu vi um comercial da Maratona de São Paulo na TV e pensei: dou conta de fazer isso”, afirma. Até então, ela tinha corrido no máximo 15 km, e treinava na esteira da academia. “Comecei a me preparar sozinha e consegui finalizar meus primeiros 42K em 4h07min.”

Todas as experiências e emoções que Ana Márcia viveu naquela prova a fizeram se apaixonar pela distância e ter a certeza de que queria fazer muitas outras maratonas. “Durante o trajeto, tive contato com vários corredores veteranos, que me incentivaram muito. Também contei com a companhia da minha tia Laíde, que me acompanhou de Metrô pelo percurso. A cada estação, ela descia e me esperava, sempre com uma palavra de conforto e estímulo. Foi tudo muito incrível.” Desde então, já são 16 anos interruptos correndo maratonas, em mais de 54 países.

Uma maratona a cada 7 dias
Ao completar a maratona de número 97, em Frankfurt, na Alemanha, Ana Márcia resolveu encarar um grande desafio até sua centésima prova: correr as três provas de 42,195 km que faltavam em apenas três semanas. “Revirei o calendário e vi que os EUA era o melhor lugar para fazer isso, já que lá há muitas maratonas.” Assim, as provas de Miami (29/01), Nova Orleans (5/02) e Birmingham (12/02) foram escolhidas para a marca histórica.

A missão foi cumprida com tranquilidade, muito graças a cabeça positiva da maratonista sul-matogrossense, que desembarcou na Terra do Tio Sam com um pensamento em mente: “Queria correr bem e curtir ao máximo aquele momento, sem me esquecer de cada quilômetro rodado, cada história, cada conquista”, afirma.

“Quando cruzei a linha de chegada em Birmingham, tive uma sensação indescritível, de muita alegria. Foram 4h39min10s de uma história que começou lá em 2001, quando não imaginava viver tamanha emoção.”

Recordista sul-americana na Comrades
Durante os 16 anos no mundo da corrida, Ana Márcia não ficou só nos 42 km. Ela foi muito além. Desde 2015, carrega o título de primeira sul-americana a ter completado por dez vezes a ultramaratona Comrades, na África do Sul. “De todas as provas que já disputei, e olha que são muitas, esta é a minha paixão. E por ter completado os 89 km uma dezena de ocasiões, o número de peito (30050) pertence a mim para sempre, como prêmio”.

E foi na África do Sul que a atleta enfrentou um dos seus momentos mais difíceis no esporte. Em 2010, ela teve uma fascite plantar e penou para cruzar a linha de chegada da maior ultramaratona do mundo. “Cheguei a diminuir o ritmo e pensei seriamente em abandonar a prova. Mas mantive o foco e a cabeça firme, até terminar.” Com ela sempre foi assim, seja na Comrades, seja nas cem maratonas que já fez. E uma coisa você pode ter certeza: o filme que passou na cabeça de Ana Márcia nos quilômetros finais da Maratona de Birmingham certamente terá novas sequências emocionantes.