compartilhe

Colunistas

Nem sempre a melhor prova é a com o melhor tempo

O resultado pode não ser o esperado, mas nem por isso a corrida deixa de ser a mais especial

Nanna PrettoPor
Nanna Pretto

Nem sempre a melhor prova é com o melhor tempo

Vocês já tiveram a sensação de treinar, treinar, treinar e, no dia da prova, o resultado ser o esperado, mas a corrida não ser tão maravilhosa? Ou ao contrário: nem tudo sair como planejado, mas a conquista, a dificuldade superada e o time de amigos correndo junto fazer daquela prova inesquecível? Comigo isso já aconteceu algumas vezes.

Estive em Buenos Aires na semana passada e foi impossível não lembrar dos 21 km percorridos na capital argentina há alguns anos. Uma das provas mais incríveis de se fazer que, realmente, é como dizem no universo dos corredores: prova de 21K sensação de 19K. Completamente plana, temperatura boa, fora do país e em turma. Uma excelente oportunidade!

Lembro que treinei bem para essa meia maratona. Fiz tudo como mandava a planilha e me comprometi com o desafio. Mas foi lá que eu estreei a metatarsalgia, uma dor no pé que me acompanha desde então.

Ela apareceu mais ou menos no quilômetro 16. Era como se tivesse uma tachinha espetando o dedo do meio do meu pé direito, bem na primeira junta. Algo insuportável e que me fez chorar por cinco quilômetros.

Nessa hora uma amiga me ultrapassou e viu meu sofrimento. Perguntou se eu queria que ela me acompanhasse ou que chamasse alguém. Lembro de ter dito que não, mas eu já pensava em desistir. Alguns conhecidos tinham passado por mim e demonstrado preocupação. Aquela solidariedade que só corredor entende.

Eis que, faltando três quilômetros para o fim do percurso, meu marido (que ainda era namorado) apareceu na contramão. Ele já tinha terminado os 21 km dele. Estava com cara de que me esperava há um tempo e com o corpo já frio. Eu ameacei parar. Queria chorar muito. Imediatamente ele segurou a minha mão e me fez continuar.

A cada pontada da dor ele desviava a minha atenção. Tentava desfocar o momento, me incentivando metro a metro. Após a última curva, eu avistei a Casa Rosada. Faltava muito pouco. Ele segurou na minha mão e disse: você conseguiu. Cruzei a linha de chegada, sentei e chorei. Chorei muito.

Todos os amigos que viajaram com a gente para aquela prova estavam preocupados, foram solidários e me ajudaram da forma que podiam: com água, gelo, banana, analgésico ou com uma simples palavra de apoio.

Não foi o meu melhor tempo em meias maratonas. Definitivamente não foi uma experiência boa (aliás, lembro dela sempre que ultrapasso o décimo quilômetro e a tachinha aparece ali no meu pé direito). Mas como não afirmar que, com tanto amor e carinho das pessoas que estavam comigo, essa não tenha sido a minha melhor prova?